Sem aviso

Pouco antes de 2025 chegar, resolvi que este seria um ano sem metas. Com menos planejamento, mais surpresas. Com menos regras e mais vida. Com menos razão e mais emoção. Me senti um cliché ambulante alardeando isso por aí, mas a esta altura da vida eu já desisti de ser original. E estava cansada de ver as coisas dando errado com planejamento, quis ver dar errado sem planejar, para variar um pouco.

O fato é que a meta de não ter metas vem sendo muito bem cumprida até agora (ai ai essa ironia irritante do destino). Não esperei nada e adivinhem? Montes de coisas inesperadas aconteceram. Não me senti tentada a voltar ao velho hábito de planejar tudo nos mínimos detalhes porque (quem diria) a minha vida continuou acontecendo sem isso.

Na verdade, passou a acontecer mais. De repente, eu estava de novo escrevendo várias páginas por semana, conheci dezenas de pessoas, superei um trauma, comecei aulas de dança, resolvi aprender a aquarelar, fui demitida, criei coragem para finalmente abandonar o marketing, encarei a minha depressão de frente pela primeira vez, expressei sentimento que sempre escondi e resolvi deixar o cabelo crescer de novo. Tudo isso em pouquíssimos meses. Estou completamente tonta.

Tonta e bastante autocentrada. Todas as coisas que aconteceram foram bastante pessoais e, embora tenham envolvido outras pessoas de forma profunda, basicamente me prendeu na frente de um espelho e estou sendo obrigada a me observar direito sem descanso.

E então o convite para escrever nesse espaço, também inesperado como todo o resto, veio como um alívio. Perguntei que tipo de texto a Amanda pensava em ter por aqui. Crônicas. O relato literário do mundo exterior por excelência. Claro, como bom texto subjetivo, sempre envolve o sujeito que escreve. Mas, cansada de mim como estou, pretendo recuperar minha bem cultivada habilidade de observação do mundo e cronicar classicamente. Dá, inclusive, para considerar isso aqui meu retorno (também inesperado) ao jornalismo, num momento em que lembro pouquíssimo do meu diploma, nadando muito feliz num mar revolto de literatura.

Mas só falei de mim desde o início do texto! Sim, e prometo que vai ser o único texto assim, aqui. Mês que vem saio da frente do espelho, essa meta eu pretendo cumprir.