Saber o lugar certo
- Isabela Torezan

- 2 de jun.
- 2 min de leitura
Cenário: o corredor do CLCH na UEL. Caminhando apressada sem motivo algum (qual o sentido da pressa nos dias de hoje?), praticamente trombei com o Flávio, professor de Letras que me deu aula sobre escrita no Jornalismo. Ele não perguntou o que eu estava fazendo ali (deixei de ser comunidade interna há anos), talvez porque eu nem dei tempo para isso. Normalmente avessa a conversas rápidas com pessoas que eu não esperava encontrar, eu logo estava contando muito animada que estava ali para uma oficina de escrita, e que estava feliz de estar na universidade por uns dias, e que tinha feito um semestre de aulas de mandarim ali no ano passado e achava que tinha sido só pela chance de passar umas horas na UEL, e que tinha amiga me tentando a fazer graduação em Letras…. E o Flávio me disse sim, volta a estudar, vem fazer uma pós.
A vontade de estudar não morreu nem agora, no momento em que (acho) cheguei o mais perto que já cheguei de tomar atitudes responsáveis sobre a minha carreira. E não, voltar a estudar não contribuiria em nada com a minha carreira. Não quero estudar com o objetivo de me aperfeiçoar profissionalmente, afinal essa vontade é a mesma desde que eu mal tinha saído das fraldas e achava incrível aprender qualquer coisa nova, simplesmente.
Continuo aquela criança que mal saiu das fraldas, eu acho, quando se trata do gosto por preencher as gavetinhas do meu cérebro com qualquer conhecimento adicional. Aprender por aprender, pelo puro gosto de ler ou ouvir uma palavra e poder dizer EU SEI. Diz o ditado que ignorância é uma bênção, realmente nunca me senti abençoada.
Não me acho inteligente, muito menos sábia. Eu sou só curiosa e tenho vontade de entender as coisas. Lido mal com o que não pode ser explicado, sofro com o que é baseado só em emoção e não em razão. A graduação, que terminei nesta mesma UEL, ainda tinha alguma orientação utilitária, um foco em trabalho e carreira, ainda que apenas na teoria. Não sou jornalista “praticante”. Agora, anos depois, andar por aqueles corredores e sentar numa cadeira de sala de aula ficou bem mais próximo das minhas tardes adolescentes lendo artigos aleatórios na Wikipédia em sequência.
Gosto de estar na universidade hoje por esse contato com o aprendizado na sua forma pura, por me ver em meio a pessoas que se igualam num objetivo: admitimos que tem coisa que não sabemos, e estamos ali para passar a saber. Acho isso uma comunhão deliciosa. Meio romântico demais da minha parte, eu sei. Mas, sinceramente, acho mais natural romantizar a universidade do que uma empresa, por exemplo.
Vou ao banheiro e vejo escrito, com caneta permanente e letras tortas, na parede do cubículo em que entrei: CONSELHO DE VETERANA TRAGA SEU PRÓPRIO PAPEL HIGIÊNICO. Aí você me diz, já aprendeu algo assim em um banheiro fora da universidade?



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