Fragilidade
- Isabela Torezan

- 12 de ago.
- 2 min de leitura
"Você vai ter que... tomar bastante cuidado", disse a médica que me explicava que na minha idade não se trata a osteoporose. Ela não quer estragar minha juventude com os efeitos colaterais de um formador de massa óssea. Tenho então que aceitar que tenho menos direito de me acidentar? Isso mesmo. Ganhei uma receita de suplemento de cálcio e uma de suplemento de prudência. Um eu comprei na farmácia, o outro preciso simplesmente produzir sozinha.
Sou cautelosa, até excessivamente, desde criança. Mas sou também desastrada e desequilibrada. Objetos caindo desviam a trajetória para me atingir e a lei da gravidade tem um efeito maior sobre mim. Saí do consultório pronta para incorporar a vítima: não posso correr o risco de cair, não posso mais fazer aulas de dança porque só posso fazer coisas com baixo impacto, tenho que fingir que sou uma senhora idosa para ir ao banheiro de noite no escuro.
O elevador cheio de gente calou meu agente vitimizador. Quando a porta fechou, ficamos todos sujeitos à mesma morte, pensei. Bastam os cabos dessa caixa móvel suspensa arrebentarem e os ossos de todos nós, os meus ossos (horrivelmente) fracos e os ossos normais dos meus companheiros virariam um amontoado de cacos no meio de sangue e carne esmagada. Todos iguais, todos quebrados. Pelo menos é assim que eu imagino um acidente de elevador, espero jamais conseguir conferir se é assim mesmo.
Atropelamentos, câncer, intoxicação alimentar, incêndios, pianos caindo de prédios, assaltos violentos, Covid, gastrite, endometriose, mordida de cachorro raivoso, queda de avião. As possibilidades de catástrofes que são comuns a todos ou à maioria de nós são muito mais numerosas do que as que me individualizam. Eu sempre tive que tomar bastante cuidado, desde que nasci, simplesmente porque nasci humana.
Eu vou seguir a recomendação da médica, vou tomar mais cuidado do que antes. Vou tomar um cuidado obsessivo e incessante para admirar a ausência de problemas, todos os dias. Vou me lembrar de me espantar quando não acontece nada e de adorar loucamente a vida, essa coisa mil vez mais frágil e mais perto do fim do que meus ossos com osteoporose.



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