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Aos trabalhadores, a tristeza

Atualizado: 3 de mai.

A minha intenção era ter escrito este texto sentada na sala de embarque de um aeroporto. Não aconteceu porque não tive tempo ocioso em nenhum dos três aeroportos nos quais estive hoje (Londrina, Guarulhos e Brasília). Algo raro: não ter tempo de morrer de tédio em aeroportos, o padrão é acabar com tempo demais para gastar quando viajo. Daí a minha ideia de escrever "in loco".


Estou, em vez disso, já em um quarto de hotel. Que tem a mesma aura alienante que eu buscava no aeroporto como inspiração: ambos são espaços que acolhem centenas de pessoas, e que não pertencem a ninguém. E onde ninguém se sente pertencendo. O aeroporto é um espaço de trânsito por excelência, todo mundo ali está a meio caminho de alguma coisa. O hotel nunca vai se parecer com o lar de ninguém, por melhor que seja. Encontros entre pessoas nos dois lugares são efêmeros e, na maioria das vezes, fadados a virar memória que se desgasta com o tempo.


Sim, sim, eu sei que ambos também são o cenário de famílias em férias, casais em lua de mel, viajantes aventureiros e pornografia (nunca vou superar a descoberta da categoria "conto erótico que se passa em banheiro de aeroporto". Pensa na higiene duvidosa). Mas vamos esquecer essas pessoas felizes um pouco, porque eu enfiei na cabeça que ia escrever sobre alienação e despertencimento, e eu sou teimosa.


Ontem foi Dia do Trabalho (ou do Trabalhador, nunca sei como escrever) e essa minha viagem acontece porque estou (ainda) tentando engatar a minha carreira fazendo concurso público. Recém-demitida por "não aderir à cultura da empresa" e navegando ainda insegura as águas do revolto mar dos freelancers, trabalho e pertencimento são coisas que não estão combinando para mim. Me sinto num grande aeroporto profissional, sempre a meio caminho de alguma coisa.


A discussão pelo fim da escala 6x1, o LinkedIn lotado de comparações com a série Ruptura. Temos um cenário em que a crítica ao sistema capitalista de trabalho está bastante centrada nesse paradoxo: trabalhadores alienados de suas funções, sem identificação com o que fazem, dos quais se exige uma devoção que só deveria ter lugar no lar e na vida pessoal. A empresa nunca vai ser uma família, assim como o hotel nunca vai ser casa.


E nem deveria, na minha opinião. Não me sinto pertencendo ao espaço do aeroporto e nem ao do hotel, e estou agora convencida de que não devo pertencer ao trabalho. Quero o dinheiro que ele pode me gerar, isso é que deve me pertencer. A mim pertencem também as habilidades desenvolvidas a muito custo para fazer bem o que eu faço.


Embora, escritas, essas conclusões pareçam óbvias, eu demorei muito para chegar nelas e sei que muita gente não enxerga as coisas dessa maneira. Ainda também não tenho muito claros os limites entre gostar do que faz e "pertencer" ao trabalho.


Reparo agora em uma coisa, iluminação providencial para esse texto que corria o risco de ficar sem final. Listei todo mundo que não estaria no aeroporto ou no hotel a trabalho, estes seriam os "felizes".


Tristes são, portanto, os que trabalham? Encerro com os votos de que, no próximo Dia do Trabalhador, estes tenham migrado de uma lista minha para a outra.

 
 
 

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