Não terei medo
- Isabela Torezan

- 1 de jul.
- 2 min de leitura
Eu tenho uma teoria, ainda em construção, sobre o tédio como motor do mundo. Há anos recolho evidências para poder afirmar que é o tédio que está na base da maior parte das ações humanas, as boas e as ruins. Falta, na minha pesquisa, a definição do que seria o oposto do tédio: se o tédio move, o que nos paralisa?
Então estudo, no momento, a hipótese de que seja o medo. Medo não é um antônimo de tédio, nem um oposto óbvio. Mas, estou há mais ou menos um mês sentindo coisas negativas que vão de dor física a crises de ansiedade porque meu corpo aparentemente se cansou de ser saudável e decidiu que eu precisava sofrer um pouco. Definitivamente não estou entediada, sinto dificuldade em agir e tomar qualquer atitude, e para resumir ao máximo vários dias de reflexão em uma pequena crônica, cheguei à brilhante conclusão de que por trás de tudo de ruim que eu sinto tem medo.
E aqui peço perdão por trazer uma referência não muito convencional de apoio à minha teoria.
No ano passado, li Duna (só aguentei até o quarto livro). No universo da saga, a seita das Bene Gesserit tem como parte de suas técnicas de controle da mente uma espécie de mantra que chamam de "litania do medo". A parte que decorei, porque passei a usar, diz assim (na tradução): Não terei medo. O medo mata a mente. O medo é a pequena morte que leva à aniquilação total. Não preciso crer nos poderes místicos das Bene Gesserit para fazer uso da calma que repetir essas três frases em sequência me traz.
Aham, eu, vinda diretamente de uma criação com influências da psicanálise e do rigor científico, manejo meus sentimentos ruins com um mantra aprendido em uma série de ficção científica que nem mesmo terminei de ler. Sugiro humildemente que você experimente antes de fazer qualquer crítica.
Voltando para a minha teoria. Se um mantra que afasta o medo é útil para reduzir ansiedade, tristeza, estresse, insegurança e até mesmo dor física, tenho aí um apoio para afirmar que quando não me mexo por causa de qualquer uma dessas coisas, é o medo que está por trás.
Este não é o espaço para desenvolver a teoria em detalhes. Para quem teve a paciência de ler até aqui, deixo o convite para a reflexão, a meu ver o objetivo de toda crônica. Será que o que você sente não é medo? E se, por não se deixar entediar saudavelmente, você vive uma pequena morte? O quão perto está você da aniquilação total da sua vontade de viver?



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