É pra ontem

YAKISOBA URGENTE!!!, gritou, para o pessoal da cozinha, a dona do restaurante que não perdeu o sotaque asiático com sabe-se lá quantos anos de Brasil. Também estavam acabando no bifê o tofu frito e os pasteizinhos com carne de soja, mas URGENTE mesmo era o yakisoba, que tinha sido vorazmente raspado da travessa pelo último cliente faminto.

Ela gritou isso em tom sério, preocupada em servir seus clientes da melhor forma possível, mas eu achei gracioso. Bonito até, um yakisoba ser urgente. Meu pescoço endurece quando penso nas agências de marketing em que trabalhei, onde coisas como uma legenda de Instagram sobre uma torneira de cozinha eram classificadas como URGENTES. Acho triste a urgência dos trabalhadores pegando ônibus, correndo e vivendo no cada-um-por-si da selva de pedra, porque estão sob a ameaça de serem descontados de um salário já ofensivamente baixo. E tem a urgência própria dos profissionais de saúde, aquela que ninguém questiona porque dela dependem vidas. Inquestionável, mas uma urgência que ainda assim ninguém quer ter por perto.

Agora, uma urgência de yakisoba? É dessa que a gente precisa. Preencher o vazio da vida com coisa que alimenta de verdade, como faz o yakisoba urgente preenchendo o vazio da tigela. Não tivesse eu já enchido meu prato com o dobro de comida do que precisava (self-services vegetarianos me causam esse problema), teria me servido de uma porção generosa do yakisoba urgente, quando ele chegasse. Afinal, onde mais eu teria a chance de saborear uma urgência? As outras são indigestas.

Ainda assim, saí de lá bem mais satisfeita do que esperava ao entrar: com a barriga cheia de ótima comida, com a cabeça digerindo uma ideia nova para escrever, e com a alma um tiquinho menos murcha, disposta a correr mais por uns yakisobas por aí.